Junta de Freguesia de Pampilhosa Junta de Freguesia de Pampilhosa

Personalidades

Joaquim da Cruz (1884 - 1975)

Joaquim da Cruz nasceu na Praia do Ribatejo, no concelho de Vila Nova da Barquinha, distrito de Santarém, no dia 17 de setembro de 1884. Era um dos 10 filhos de Thomaz da Cruz, natural de Dornes, do concelho de Ferreira do Zêzere, proprietário e negociante, e de Rosa Maria, natural de Paio de Pele, o nome original da Praia do Ribatejo, doméstica.


Thomaz da Cruz era um dos dois madeireiros da Praia do Ribatejo, da empresa Thomaz da Cruz & Filhos, com fábrica de serração a vapor. Abriu sucursais em Caxarias (Ourém), Carriço (Pombal) e Pampilhosa.

Com a entrada em funcionamento, em 1882, da linha de caminho-de-ferro da Beira Alta, a Pampilhosa começou a transformar-se por completo. A atual parte baixa da Pampilhosa, onde em 1870 não havia qualquer prédio, foi ocupada por algumas fábricas, armazéns e residências em poucos anos. Chegaram a coexistir quatro cerâmicas. A primeira fábrica de serração de madeiras a ser instalada foi a Thomaz da Cruz & Filhos, junto à via-férrea e um pouco a sul da estação, isto no ano de 1905. Ficaram à frente da dita fábrica os irmãos Joaquim e Francisco da Cruz que, desenvolvendo grande atividade, deram grande nomeada à empresa, exportando madeira trabalhada para diversos pontos do País através do caminho-de-ferro. Foi este melhoramento e a consequente instalação de indústrias de barro e de madeira que muito contribuíram para a criação de um polo industrial e populacional da menos populosa Freguesia do Concelho de Mealhada que, em 1880, somava pouco mais de 650 moradores e, em 1910, já perto de 1500.

A esse surto de desenvolvimento sempre esteve ligado o nome de Joaquim da Cruz, com o seu dinamismo e a sua simpatia, levando-o a ser considerado e respeitado na terra. De facto, Joaquim da Cruz, republicano dos quatro costados, democrata e anticlerical, muito cedo se embrenhou na política local, ainda durante o regime monárquico, entusiasmando-se pelo desenvolvimento de uma comunidade que crescia e passou a considerar como sua. Grande benemérito, industrial ativo, dos vultos mais atuantes do Partido da União Republicana no Município, sempre bem-humorado, de espírito e corpo sãos, Joaquim da Cruz era um bom cavaqueador, despretensioso e de sorriso comunicativo. Os seus amigos diziam que, quando calado, atraía, e a falar, encantava. Admirador de António José de Almeida e Norton de Matos, Joaquim da Cruz foi um republicano indefetível. O seu irmão mais velho, Francisco da Cruz, era licenciado em Direito e foi Deputado na I República por três vezes.

Com a implantação da República, em 5 de outubro de 1910, torna-se o Presidente da Comissão Administrativa responsável pelo governo do Município da Mealhada na transição entre regimes. Voltaria a ocupar o lugar, por eleição, em 1911, 1917 e 1919.

Em 1912, por iniciativa de Joaquim da Cruz, nasce o Sindicato Agrícola, para defesa dos camponeses do Concelho, iniciativa que se revelou efémera. O seu trabalho como autarca confunde-se com o período de grande ação política local que se seguiu à implantação da República.

Fez parte da Comissão para a construção de um fontanário artístico (chafariz) que viria a ser inaugurado em agosto de 1915 e que ficou conhecido por Fonte do Garoto, por incluir uma escultura de um menino segurando uma bilha, escultura em bronze da autoria do escultor António Teixeira Lopes. Por ter sido furtado um busto em bronze (dedicado ao Dr. Abel da Silva Lindo), em novembro de 2011, a escultura do menino foi retirada por precaução, colocando-se no seu lugar uma réplica em compósito. A peça original encontra-se no Salão Nobre da Junta de Freguesia. 

Fundou, em 1913, a Tuna Recreativa de Pampilhosa, que depois despoleta a fundação da Filarmónica Pampilhosense, em 1920, ainda hoje existente.

Em 1920 teve a ideia de criar, conjuntamente com outros industriais da Pampilhosa, uma espécie de Caixa Mutual, para a que também contribuíram os operários com um pequeno desconto nos seus salários. Como os operários não concordaram, a ideia gorou-se. Entretanto, pese embora com alterações, a ideia voltou a ser tratada por alguns industriais, acabando por ser criada a Associação de Socorros Mútuos 7 de Agosto, em 1921. Ainda apoiou Francisco Mourão na iniciativa da criação da Casa da Sopa dos Pobres.

Em 1923, Joaquim da Cruz e Albano Christina convenceram Joaquim José de Melo a autorizar graciosamente a canalização de água de abundante nascente junto ao pinhal de Gândara, até perto da zona habitacional. Construiu-se então um aqueduto com mais de trinta arcos e essa fonte passou a ser a Fonte do Melo, inaugurada em 1925.

Provavelmente a maior obra de Joaquim da Cruz para os pampilhosenses foi a Escola Democrática Thomaz da Cruz, custeada por ele e pelo seu irmão Francisco, e a que deram o nome do progenitor. A empresa ofereceu o terreno e custeou as obras de edificação – cuja inauguração aconteceu em 1923 – e futuras ampliações. Foi ali que durante décadas parte dos pampilhosenses tiveram acesso à instrução (outros tinham na velha Escola do Freixo, na parte alta da aldeia).

No dia 8 de dezembro de 1923 Joaquim da Cruz casou na Figueira da Foz com D. Maria Rita dos Santos Carvalho, filha de Manuel José de Carvalho e irmã de Joaquim Carvalho, da Figueira da Foz.

Em 1924 ajudou à criação do Pátria Foot-Ball Club e deu apoio a Adriano Teixeira Lopes e Joaquim Pires na formação da Empresa Cinematográfica Pampilhosense, da qual inicialmente foi sócio. 

Por essa altura, Joaquim de Cruz defendia tornar-se imperioso construir um Bairro Operário e aprovar um plano geral de urbanização, dado o seu crescimento populacional, industrial e comercial, melhorando os arruamentos e o asseio. Chamou a atenção para a falta de critérios nas edificações, necessidade de abertura de novas ruas e construção de uma “passerelle” sobre as linhas para acesso à Estação. Também apelou aos proprietários para construírem edifícios com bom gosto, para que, futuramente, a Pampilhosa fosse mais atraente. Ele mesmo mandou construir um belo e grandioso edifício, junto à fábrica de serração, edifício a que deu o nome de sua mãe, a Vila Rosa. Ainda hoje é um belo chalet, conquanto semiarruinado, por longo abandono. À sua custa, mandou plantar várias árvores nas orlas das estradas da Freguesia de Pampilhosa. 

Em 1926, quando se pensou em fundar uma corporação de bombeiros, Joaquim da Cruz logo deu o seu incondicional apoio e, com Adriano Teixeira Lopes, encabeçou a Comissão Organizadora para a fundação da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Pampilhosa. Na primeira eleição, ficou a presidir à Assembleia-geral. Depois, por vários anos, Presidente da Direção e Primeiro Comandante, tendo colocado à disposição dos Bombeiros, graciosamente, um seu armazém que serviu de Quartel durante quinze anos. Em 1931 vendeu à Associação o seu automóvel, um Turcat-Méry, pelo preço simbólico de três mil escudos. Passou a ser o Pronto-Socorro n.º 1.

No período que se seguiu à II Guerra Mundial, principalmente no início dos anos de 1950, a crise acentuou-se e as fábricas da Pampilhosa foram aos poucos encerrando a sua atividade. Vários ferroviários emigraram para África, outros para França, a população pampilhosense reduz-se, continuando, no entanto, a ser a mais elevada das Freguesias do Concelho de Mealhada. 

Joaquim da Cruz, que, lentamente se vinha afastando da vida ativa, social e económica, encerra a fábrica de serração. Acaba por vendê-la, conjuntamente com a Vila Rosa, à Sociedade de Adubos Ceres.

Joaquim da Cruz faleceu na Pampilhosa no dia 3 de agosto de 1975. Está sepultado na sua terra natal, Praia do Ribatejo.

Adaptado de http://www.nunocanilho.pt/tag/pampilhosa/






© 2025 Junta de Freguesia de Pampilhosa. Todos os direitos reservados | Termos e Condições

  • Desenvolvido por:
  • GESAutarquia