Pampilhosa do Botão? - A história e o Hino da Pampilhosa
Para onde quer que vá um(a) pampilhosense, não só pelo nosso Portugal, mas também por terras além, e quando responde que é da Pampilhosa, se alguém lhe faz essa questão, a grande maioria das pessoas, ao escutar a resposta, logo lhe diz: "Ah sim senhor, Pampilhosa da Serra!". Então, há que voltar a explicar que não é a Pampilhosa serrana, mas sim, a dos comboios, a da Bairrada, a que pertence ao concelho da Mealhada. Então, a conclusão é: "Ah claro, é a Pampilhosa do Botão!!"
Mas, terá pertencido a Pampilhosa, alguma vez na sua História, à vizinha freguesia de Botão, atualmente pertencente ao Concelho e Distrito de Coimbra?
Bem, de facto, nem a Pampilhosa alguma vez pertenceu a Botão, nem o contrário. Aliás, dizia-se que os seus moradores até preferiam dizer que eram da Pampilhosa do Lorvão, devido aos seus antecedentes históricos ligados ao Mosteiro daquela localidade.
No século XIX, ambas as localidades pampilhosenses se chamavam apenas Pampilhosa. Porque o Código Postal apenas foi introduzido em Portugal em 1978, era comum as cartas com destino à "nossa" Pampilhosa serem levadas para a Pampilhosa, a da Serra (e talvez menos frequentemente o contrário). Por esse motivo, aquela Vila e sede de Concelho do Distrito de Coimbra terá resolvido tentar atenuar esses enganos, juntando-lhe o vocábulo "da Serra", que ainda hoje perdura, inclusivamente na sua heráldica.
A Pampilhosa, a nossa, era, até à chegada do comboio, nos anos de 1870/1880, um pequeno povoado pertencente ao Concelho de Coimbra. Talvez por isso foi decidido, por alvará do Governador Civil de Coimbra, António Sousa Henriques Seco, de 19 de julho de 1852, anexar a Junta de Paróquia de Pampilhosa à da Vila de Botão, situação que provocou o desagrado do povo da freguesia. Alguns cidadãos fizeram-no saber ao chefe do distrito e este, por novo alvará, de 22 de dezembro de 1853, revogou o anterior e ordenou que em cada uma das freguesias se procedesse à eleição da Junta de Paróquia e juiz para o biénio seguinte.
Terá sido nesta altura, hipoteticamente, e por analogia com a Pampilhosa da Serra, que a Pampilhosa passou a ser conhecida por "Pampilhosa do Botão", visto que, em relação a esta freguesia, o pequeno lugar situado na parte alta da atual Vila era praticamente insignificante. Porém, tal como aconteceu em 2012 com as Uniões de Freguesias, ambas as freguesias (ou paróquias) continuaram a existir, embora sendo orientadas por apenas uma Junta de Paróquia, tendo esta situação decorrido durante somente cerca de um ano e meio.
Se bem que, apesar do requerimento a solicitar o contrário, a Freguesia, 9 dias depois, por decreto datado de 31 de dezembro de 1853, acaba por ser transferida para o Concelho de Mealhada, que havia sido criado 17 anos antes, em 1836. O Concelho, então ainda pertencente ao Distrito de Coimbra, acaba por ser trocado com o do Mira, passando este para Coimbra e o da Mealhada para o Distrito de Aveiro. Terminava aqui um vínculo secular da Pampilhosa à Cidade de Coimbra. (1)
Sobre este assunto, Maria Alegria Marques escreve, no seu livro "Pampilhosa: Oito Séculos de História" (ed. 1986), p. 98, que existe um livro de «"Actas das sessões da Junta de Parochia de freguezia da Vila de Botão e Pampilhoza" mas que o mesmo deixa algumas dúvidas. O livro começa em 1842 e vai até 1876. Aparece um morador de Pampilhosa - Agostinho José de Melo - em 1842 e 1847. Em 1848 oferece-se para secretário o pároco de Pampilhosa, que é aceite; assina somente mais duas atas, uma desse ano e outra de janeiro de 1849. A nenhum deles é referenciado o facto de pertencer à Pampilhosa. Nas reuniões em que tomam parte nunca é deliberado nada sobre a terra; mesmo em relação à igreja só tratam de assuntos de Botão. (...) Não cremos que fosse por esta efémera ligação a esse lugar que a Pampilhosa se tenha chamado de Pampilhosa do Botão; quer nestes, quer em documentos posteriores, ela é sempre chamada oficialmente de Pampilhosa. Essa designação encontra-se, esporadicamente, desde inícios do século XIX, em documentos de caráter meramente particular. A divulgação do nome estará ligada, provavelmente, a aspetos de distribuição postal para evitar confusão com a outra Pampilhosa do Distrito de Coimbra.»
Mesmo com o advento do comboio e com a construção da Estação, esta chama-se, tão somente, Pampilhosa.
Ainda assim, resta alguma ligação a Coimbra. Eclesiasticamente, o Concelho da Mealhada pertence ao Bispado de Coimbra, e, mais recentemente, aderiu à Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIM-RC), sendo um dos dois concelhos não pertencentes ao Distrito conimbricense (o outro é Mortágua, do distrito de Viseu) a integrar esta nova organização.
Curiosamente, 100 anos depois, em 1952, é composta a canção que mais tarde havia de ser reconhecida popularmente como o "Hino da Pampilhosa". Trata-se de uma canção composta para um entremês (uma espécie de "revista à portuguesa", com teatro e canções), por Guilherme Ferreira da Silva (letra) e Joaquim Pleno (música). Este entremês foi apresentado pela primeira vez nas Covas da Baganha no dia 7 de setembro de 1952, com repetição a 22 de novembro do mesmo ano, na Sede da Filarmónica Pampilhosense.
Duas das canções do entremês abordavam o facto de a Pampilhosa pertencer ou não a Botão, ou simplesmente por ter Botão no seu nome. Então uma das canções dizia:
«Botão, querido Botão!
Botão que te foste embora!
Volta, Botão, que o povo
De tristeza - até chora!»
Entretanto, a canção que ficou celebrizada como o Hino da Pampilhosa, de título "Pampilhosa (sem Botão)" e mais tarde conhecida como "Pampilhosa, Ala Arriba!", dizia:
«Pampilhosa, amada terra,
Com Botão ou sem Botão.
Temos-te sempre guardada,
Bem dentro do coração!
Grande e desenvolvida
Te desejamos, Pampilhosa!
E que a fama em ti cresça,
Em ti que já és famosa!
Pampilhosa, Ala Arriba!
De pé, e sempre de pé!
O amanhã será nosso.
Pampilhosa... Olé!»
E assim nasceu uma canção de enaltecimento e da sempre independência da Pampilhosa!
Ter-se-á esta canção celebrizado pelo facto de o povo pampilhosense já não admitir "Botão" no nome da sua terra? Talvez, mas na atualidade, sendo duas freguesias de diferentes Concelhos e Distritos, não é possível haver qualquer ligação formal. No entanto, haverá sempre uma ligação histórica e sentimental. São freguesias unidas, não só pela proximidade, mas também por tantas e tantas ligações familiares.
Assista ao vídeo com arranjo da autoria de João Vila, com as vozes dos Professores do Centro Escolar da Pampilhosa, gravado em março de 2012, para uma apresentação em contexto escolar: