Paul Bergamin nasceu em 1848, na localidade de Schluein, cantão suíço de Grisões, filho de Blasius Bergamin, industrial hoteleiro, e de Maria Ursula Bergamin, doméstica. Chegou a Portugal no final da década de 1870 para se estabelecer no Hotel Bragança, situado na Rua do Ferragial de Cima (atual Vítor Cordon) em Lisboa, um dos melhores hotéis do país, à época. Paul Bergamin permanece alguns anos em Lisboa e em 1882 aposta forte no Entroncamento da Pampilhosa, pequeno lugar que o comboio acabava de colocar no mapa. Nesta localidade inicia a sua atividade com a exploração, por concessão, do bufete da estação do caminho-de-ferro, mas a sua iniciativa empresarial depressa se estende ao Buçaco, Luso e Coimbra. Individualmente, ou em sociedade, viria a ter uma atividade hoteleira digna de registo, particularmente no que se refere à exploração do Grande Hotel do Buçaco, que iniciou provisoriamente em 1899, e em definitivo a partir de 1907, com contrato até 1926. Concessão que viria a ceder a Alexandre d’Almeida, em 1920.
Acompanhou Paul Bergamin, na sua viagem para Portugal, a sua irmã Paulina Bergamin (1863-?) e supostamente o seu pai, pois encontram-se em postais ilustrados antigos do Porto as seguintes inscrições: «Editor: Blasins Bergamin Arrendatário do Restaurante». Assim supõe-se que o concessionário do restaurante da estação de Campanhã seria o pai de Paul, pois poderá existir aqui um erro de impressão (Blasins/Blasius).
Em Lisboa Paul Bergamin fixa morada na freguesia da Nossa Senhora dos Mártires e vem a casar em 1879, na Ericeira, com Adelaide Maria Albuquerque (1854-1918), doméstica, natural da Ericeira, Mafra. O nome que adota em Portugal, como consta em documentos oficiais, é de Pedro Paulo Bergamin, embora o próprio assine frequentemente com o seu nome original, Paul Bergamin. As referências à atividade de Paul Bergamin são diversas, tais como: pasteleiro, diretor de uma cadeia de hotéis de Lisboa, organizador de banquetes da família real, cozinheiro do rei D. Luís, etc. Mas a designação mais consistente é a de Chef, cozinheiro/pasteleiro, especialidade que acumulou com o desempenho de administração hoteleira. Em 1882, a família Bergamin instala-se na Estação do caminho-de-ferro da Pampilhosa, começando por fazer uma série de investimentos. Adquire vários terrenos, uns por compra direta, outros por aquisição de heranças e também por hipotecas de empréstimos, que se estendem desde a zona da ribeira do Entroncamento (atual Jardim Municipal), até à Lagarteira (Fonte da Pipa). Procede também à aquisição de vinhas e pinhais no Areal.
Em 1882/3 edifica o Chalet Suíço (Suísso), em frente à estação, bem como um conjunto de infraestruturas à sua volta, de apoio ao negócio: casa de telégrafo e postal, padaria, armazéns, casa de abegoaria, garagem e cocheira.
Em 1883, no dia 25 de setembro, nasce a primeira filha, Maria. Em 1886, no dia 10 de abril, o casal Bergamin perde o segundo filho à nascença. A sua irmã, Paulina Bergamin, casa com Jacinto Assunção Ferreira Xavier de Noronha (1862-1930), primeiro chefe da estação Norte da Pampilhosa, natural de Formoselha, freguesia de Santo Varão (Montemor-o-Velho). Em 1903, a filha de Paul Bergamin, Maria Adelaide d’Albuquerque Bergamin, com 20 anos de idade, casa com Feliciano d’Oliveira Rocha (1877-1926), filho de Feliciano Rodrigues da Rocha, industrial (sócio de António de Almeida e Costa e Joaquim Teixeira Lopes na Fábrica das Devesas, com sucursal na Pampilhosa) e Antónia Maria d’Oliveira, doméstica.
Em 1918 é noticiada a morte da esposa de Paul Bergamin no jornal Bairrada Elegante: «faleceu no Bussaco esta senhora, esposa do sr. Paulo Bergamin, arrendatário do Palace Hotel e antigo cozinheiro do rei D. Luiz e sogra do sr. Feliciano Rocha, gerente daquele importante estabelecimento».
Em 1921 a morte de Paul Bergamin consta da necrologia publicada n’O Século de 13 de maio: «faleceu no Palace Hotel do Bussaco o sr. Paul Bergamin, ex-proprietário do mesmo hotel e durante muitos anos proprietário do restaurante da estação da Pampilhosa». Paul Bergamin faleceu de coma diabético. Foi sepultado no cemitério novo do Luso, com termo de concessão lavrado em 23 de agosto do mesmo ano, em nome de Alexandre d’Almeida, sepultura perpétua n.º 16, no talhão 3. Presume-se que se tenham cumprido as condições colocadas na escritura de cedência de concessão: permanecer no Hotel, com tratamento de hóspede até ao último dia. O facto de ter sido sepultado no Luso, a custos de Alexandre d’Almeida, e não ter sido trasladado para o jazigo de família no cemitério da Pampilhosa, leva-nos a supor que as relações familiares, desgastadas nos últimos anos, não se restabeleceram até à sua morte, contribuindo igualmente para o apagamento da sua memória. Lembrando Paul Bergamin resta o edifício do Chalet Suíço, cuja reabilitação é importante, símbolo da atividade económica hoteleira instalada na Pampilhosa há mais de 130 anos.
Adaptado de um documento da autoria de Mário Rui Cunha publicado na revista “Pampilhosa. Uma Terra e Um Povo” n.º 35 - GEDEPA 2016